Sobre o amor debaixo do guarda-chuva.

Da janela do carro eu enxergava as gotas d'agua pingando no vidro e se transformando em pequenas bolhas que vez ou outra, formavam desenhos engraçados; eu parecia presa em uma bolha enquanto o mundo lá fora desabava. Vi rastros de pessoas correndo, vi um raio de sol atravessar uma nuvem e formar um semi arco-íris. Do outro lado do grande escorregador colorido, eu os vi. Pareciam jovens demais para se aventurar e velhos demais para perder tempo. Mas eles estavam lá: imóveis, debaixo de um pequeno guarda-chuva amarelo. Aninhados, colados, grudados como dois imãs. Era um guarda chuva e o amor. O amor traduzido numa cena visível em qualquer esquina e que passaria despercebido por outros olhos, mas não pelos meus, que procuram o amor em todo o canto, o tempo todo. Eles estavam lá: amarrados, de corpos colados, de almas unidas. Ele a protegia: a acolhia num meio abraço enquanto segurava o guarda-chuva que seria pequeno demais para quaisquer outros, mas não para eles, que de repente pareciam um só. O guarda-chuva não era mais proteção para os corpos; o guarda-chuva agora, era o casulo dos corações. Ainda há quem procure demonstrações de cuidado e carinho naquilo que pode ser visto enquanto há muito mais para ser encontrado naquilo que pode ser sentido. O casal debaixo do guarda-chuva amarelo sabia disso: transformaram um pequeno espaço no meio de uma tempestade em um abrigo para seu amor. E quando a tempestade passou, de alguma forma, sabiam que toda vez que chovesse estariam juntos e prontos para esperar que o mundo voltasse ao eixos. Por que amar vai além das palavras: amar é saber fazer valer o verbo. Então espere o temporal e repare em quem estará pronto para te aconchegar debaixo de um guarda-chuva.