domingo, 24 de novembro de 2013

Se eu não tivesse você.

          


         Não sei se você sabe, mas eu deixei de separar as roupas por cores por tua causa. E eu deixei de ficar aflita quando o fio do fone de ouvido fica embramado em cima da cama ou quando um chinelo vira sem querer num canto qualquer. Por tua causa eu não sou mais aquela boba que olha no espelho vinte vezes antes de sair de casa ou aquela insegura que se esconde em baixo das cobertas por não acreditar que foi só o vento que bateu a porta. Pelo contrário, por tua causa eu aprendi a levantar da cama pra descobrir quem é o otário que anda atrapalhando meu sono.
       A tua ousadia me deu coragem: tua forma delicada de pontuar minhas fraquezas me fez desejar ter te conhecido antes, pra me despir daquela pele que antes não me deixava sentir a luz do sol. O teu bom humor contestável nas manhãs de segunda feira ou  aqueles abraços apertados em dias de muito calor me tornaram alguém menos preocupada com as coisas que na verdade, eu nunca tinha corrido o risco de enfrentar. Afinal, nunca nos livraremos das segundas feiras eternas ou dos dias de verão insuportáveis mas assim como a vida, podemos eventualmente passar por eles.
       Aprendi a dançar em cima do sofá ao som da sua playlist brega, a cantar no chuveiro no meio da madrugada com o prédio todo dormindo e a passar aquele batom vermelho que você acha 'caro demais pra ficar na estante'. Não sei se você sabe, mas a sua bagunça arrumou a minha vida e agora eu te preciso aqui pra (des)controlar essa vontade de virar o mundo de cabeça pra baixo com os nossos sonhos na mochila. 
        

domingo, 14 de abril de 2013

Raiz, Raissa.


E como uma flor é arrancada da terra só para fazer um afago nos dedos, você foi arrancada desse mundo para enfeitar o outro lado com a sua beleza essencial. A maioria de nós passa a vida com medo da morte: nós não sabemos muito de nenhuma das duas para arriscar palpites a respeito do destino que levamos. Sabemos o superficial e isso nunca nos será suficiente para entender a brevidade da nossa estada aqui. Mas você... Você era de uma coragem indomável. Vivia com um sorriso colado ao rosto e jamais deixava alguma impressão duvidosa sobre si mesma: era alguém que se permitia sentir e por isso, inocentemente, transbordava felicidade aos olhos de quem te observava, mesmo que de longe. Eu te conheci semente, tentando buscar um lugar pra crescer - e ser - em meio a tantas possibilidades; e entre todas as formas de ser, você definitivamente escolheu ser a mais bonita: aquela flor que naturalmente era escolhida pelo simples fato de não se parecer com nenhuma outra. A tua partida deixou esse jardim incapaz de ser perfeito outra vez: a tua falta será sentida, o teu nome será perguntado, o seu perfume será lembrado. A certeza que caminha ao lado daqueles que pouco a pouco, te regaram durante a sua breve vida, é de que as raízes sempre ficam. Você se fincou neste plano como uma semente muito rara que hoje se transformou em raiz impenetrável. Com sabedoria, você se eternizou. E vamos cultivar. Raiz, Raissa... o amor que você semeou, a alegria que você deixou, as vidas que você mudou. Te amamos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Achados e Perdidos


O tempo costuma ser o vilão dos corações desesperançosos. É como se o passar dos dias fosse aos poucos amarelando as páginas dos calendários ansiosos enquanto torna o embaraço do peito mais difícil de ser decifrado. Fizemos uma bagunça com nossas possibilidades e deixamos nossos planos esquecidos em algum rascunho no fundo de uma gaveta qualquer, empoeirada por erros que tornaram nosso amor invisível. Ainda acredito que aquilo que é mais precioso é sempre mais difícil de ser alcançado, seja porque está mais distante ou porque quase sempre começamos procurando nos lugares errados. A maior parte de nós precisa encontrar gavetas vazias e escuras para então reconhecer as que carregam aquilo que necessita ser (re)encontrado. Eu procurei por aquele rascunho de nós em promessas que deveriam ter se cumprido, em sonhos que deveriam ter se realizado, em palavras que deveriam ter sido ditas e tudo o que eu consegui foram algumas toneladas de realidade necessárias para me mostrar que passei tempo demais desejando o que não aconteceu quando na verdade o que é mais valioso está no futuro. Qualquer dia desses eu abro a gaveta certa, vasculho da maneira exata e acho aquele rascunho perdido por lá, pra gente reler e ver se ainda faz sentido e se vale a pena transformá-lo numa história de verdade, sem essa de final feliz pra sempre. Que a gente possa parar no meio de uma frase e deixar que a vida se encarregue de pontuar o resto, em reticências eternas que não nos dê direito a ponto final. Que o ar no peito seja suficiente pra soprar toda a poeira e abrir os póros por onde a luz vai entrar, entre todos os vãos de gavetas escuras, iluminando cada linha daquilo que secretamente, já está escrito pra nós.